quinta-feira, 5 de julho de 2012


Tempos Contrastantes.

Santos, Maria Madalena dos.

      Laura e Laureane vivem se discordando uma da outra. Laura viveu num tempo em que a infância era usufruída plenamente. Nesta época, as crianças brincavam de roda, de pique esconde, de passar anel, de carrinhos, casinhas, batizados de bonecas entre outras brincadeiras, todas saudáveis.
 A avó recorda feliz! E como gostaria que seus netos também tivessem uma infância da qual se orgulhar no futuro, que se amadurecessem naturalmente para tornarem-se adultos bem sucedidos, capazes de discernirem o certo do errado e assim se livrarem das armadilhas em que hoje os jovens imaturos caem-se.
      Laureane, sua neta, de bebê passou-se a mocinha. É uma adulta “em miniatura”. Sabe de tudo da complexidade dos problemas do mundo, menos da inocência própria de sua idade.
As brincadeiras dinâmicas de outrora que concorriam para a saúde física, mental e emocional das crianças foram substituídas por jogos eletrônicos, filmes em TV, CD, DVD, os quais, muitas vezes, incentivam a violência, a imoralidade, a competitividade, tornando-as sedentárias, às vezes, obesas, revoltadas, vítimas de dietas que embora produzam resultados não se comparam com um estilo de vida livre, com prática de exercícios físicos, que produzem corpos sarados.
Laureane por sua vez ri da avó e a critica julgando-a ultrapassada no tempo. Faz muita coisa às escondidas, mas quando suas tramas falham, volta para chorar no ombro amigo da avó que sempre lhe diz: “eu a avisei, mas você não aceitou os meus conselhos. Agora, acalme-se! Com o tempo tudo vai passar”.
A avó vive angustiada por perceber que o caminho seguido pelos netos oferece muitos riscos. É violência na escola, droga por toda parte, imoralidade em geral e ela não se conforma com o conceito de que os pais deveriam criar os filhos para o mundo. Para ela, os filhos deveriam ser criados visando a uma sociedade mais justa, humanitária, digna e feliz.
Laureane, agora adolescente, começa a pensar melhor devido as pressões sofridas. Há momentos em que ela chega a concordar com a avó. Acha que o mundo está mesmo se tornando cada vez mais caótico. Também pudera! Além do que ela ouve nos noticiários, foi testemunha ocular de um crime hediondo contra sua colega, do qual, salvara-se por um triz, ficando traumatizada, carecendo da atenção médica especializada.
Laura volta a dizer: “esses jovens de hoje não terão o que recordar amanhã. Suas frustrantes recordações os podarão de terem um futuro promissor. Será uma geração sem fundamento, sem base, pois embora pareça contraditório, é o passado que dá base para se formar o presente e projetar o futuro”.
Pensando bem, ela tem razão. Do estilo de vida que vê os jovens levar, incluindo seus netos, que recordações boas terão do passado? Foram privados da infância. Não puderam brincar livremente, exercitarem o corpo, a mente, a alma, a criatividade em nenhum projeto dinâmico que lhes proporcionassem iniciativa, autonomia, poder de decisão. Presos em contatos frios por emails, que não oferecem calor humano, amor, oportunidade de solidariedade, de mostrar humildade, de ser pacientes, longânimes uns com os outros, como sobressair bem? Pois a convivência exige respeito e amor, e prepara o ser humano para o exercício pleno da cidadania, desenvolvendo nele características saudáveis propícias à fraternidade.
Após a corrida louca do tempo, Laura e Laureane dão as mãos. Avó e neta emudecem-se. A neta pensativa em como o mundo mudou, pois não se vê nem sombra das coisas mencionadas do tempo de sua avó. Agora, ela consciente anseia esse tempo. Quão bom seria! A avó triste por ver o mundo em que os seus estão inseridos e por estes não aceitarem plenamente a instrução dada por ela, seus alertas quanto ao perigo, seus bons conselhos que os manteriam afastados deste perverso mundo mau com boas perspectivas para um futuro pacífico.
Até mesmo os animais protegem suas crias. Não seria de esperar que esta mulher sensata se preocupasse com a sua prole, ainda mais que estes perderam a mãe, sua única filha, deixando-os por legado?
Mas ela não perde a esperança. Luta pelos netos enquanto houver vida e espera que o tempo prove que tem razão e os convença de que o melhor modo de vida é o aconselhado por ela, longe das maldades do mundo e mais próximo do Criador.
 Laureane já entende a avó, percebe-se que os contrastes apresentados pelo tempo a envelheceu além da medida pelas perdas sofridas. Só o tempo nos faz entender plenamente cada coisa e, a mudança drástica das coisas, só causa sofrimento. Dificilmente traz alegria neste complexo mundo globalizado.
Que o ser humano saiba viver neste mundo sendo inocente como pombas, mas cauteloso como a serpente, para evitar as armadilhas do passarinheiro que consiste no inteiro sistema mundial.   


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