Tempos Contrastantes.
Santos, Maria Madalena dos.
Laura e Laureane vivem se discordando uma
da outra. Laura viveu num tempo em que a infância era usufruída plenamente.
Nesta época, as crianças brincavam de roda, de pique esconde, de passar anel,
de carrinhos, casinhas, batizados de bonecas entre outras brincadeiras, todas
saudáveis.
A avó recorda feliz! E como gostaria que seus
netos também tivessem uma infância da qual se orgulhar no futuro, que se
amadurecessem naturalmente para tornarem-se adultos bem sucedidos, capazes de
discernirem o certo do errado e assim se livrarem das armadilhas em que hoje os
jovens imaturos caem-se.
Laureane, sua neta, de bebê passou-se a
mocinha. É uma adulta “em miniatura”. Sabe de tudo da complexidade dos
problemas do mundo, menos da inocência própria de sua idade.
As
brincadeiras dinâmicas de outrora que concorriam para a saúde física, mental e
emocional das crianças foram substituídas por jogos eletrônicos, filmes em TV,
CD, DVD, os quais, muitas vezes, incentivam a violência, a imoralidade, a
competitividade, tornando-as sedentárias, às vezes, obesas, revoltadas, vítimas
de dietas que embora produzam resultados não se comparam com um estilo de vida
livre, com prática de exercícios físicos, que produzem corpos sarados.
Laureane
por sua vez ri da avó e a critica julgando-a ultrapassada no tempo. Faz muita
coisa às escondidas, mas quando suas tramas falham, volta para chorar no ombro
amigo da avó que sempre lhe diz: “eu a avisei, mas você não aceitou os meus
conselhos. Agora, acalme-se! Com o tempo tudo vai passar”.
A
avó vive angustiada por perceber que o caminho seguido pelos netos oferece
muitos riscos. É violência na escola, droga por toda parte, imoralidade em
geral e ela não se conforma com o conceito de que os pais deveriam criar os
filhos para o mundo. Para ela, os filhos deveriam ser criados visando a uma
sociedade mais justa, humanitária, digna e feliz.
Laureane,
agora adolescente, começa a pensar melhor devido as pressões sofridas. Há
momentos em que ela chega a concordar com a avó. Acha que o mundo está mesmo se
tornando cada vez mais caótico. Também pudera! Além do que ela ouve nos
noticiários, foi testemunha ocular de um crime hediondo contra sua colega, do
qual, salvara-se por um triz, ficando traumatizada, carecendo da atenção médica
especializada.
Laura
volta a dizer: “esses jovens de hoje não terão o que recordar amanhã. Suas
frustrantes recordações os podarão de terem um futuro promissor. Será uma
geração sem fundamento, sem base, pois embora pareça contraditório, é o passado
que dá base para se formar o presente e projetar o futuro”.
Pensando
bem, ela tem razão. Do estilo de vida que vê os jovens levar, incluindo seus
netos, que recordações boas terão do passado? Foram privados da infância. Não
puderam brincar livremente, exercitarem o corpo, a mente, a alma, a
criatividade em nenhum projeto dinâmico que lhes proporcionassem iniciativa,
autonomia, poder de decisão. Presos em contatos frios por emails, que não
oferecem calor humano, amor, oportunidade de solidariedade, de mostrar
humildade, de ser pacientes, longânimes uns com os outros, como sobressair bem?
Pois a convivência exige respeito e amor, e prepara o ser humano para o
exercício pleno da cidadania, desenvolvendo nele características saudáveis
propícias à fraternidade.
Após
a corrida louca do tempo, Laura e Laureane dão as mãos. Avó e neta emudecem-se.
A neta pensativa em como o mundo mudou, pois não se vê nem sombra das coisas
mencionadas do tempo de sua avó. Agora, ela consciente anseia esse tempo. Quão
bom seria! A avó triste por ver o mundo em que os seus estão inseridos e por
estes não aceitarem plenamente a instrução dada por ela, seus alertas quanto ao
perigo, seus bons conselhos que os manteriam afastados deste perverso mundo mau
com boas perspectivas para um futuro pacífico.
Até
mesmo os animais protegem suas crias. Não seria de esperar que esta mulher
sensata se preocupasse com a sua prole, ainda mais que estes perderam a mãe,
sua única filha, deixando-os por legado?
Mas
ela não perde a esperança. Luta pelos netos enquanto houver vida e espera que o
tempo prove que tem razão e os convença de que o melhor modo de vida é o
aconselhado por ela, longe das maldades do mundo e mais próximo do Criador.
Laureane já entende a avó, percebe-se que os
contrastes apresentados pelo tempo a envelheceu além da medida pelas perdas
sofridas. Só o tempo nos faz entender plenamente cada coisa e, a mudança
drástica das coisas, só causa sofrimento. Dificilmente traz alegria neste
complexo mundo globalizado.
Que
o ser humano saiba viver neste mundo sendo inocente como pombas, mas cauteloso
como a serpente, para evitar as armadilhas do passarinheiro que consiste no
inteiro sistema mundial.
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